quinta-feira, 6 de maio de 2010

Religião - Final (UFA!)

Um detalhe que não foi apresentado, mas que acompanhou todo esse processo, é que as regras sociais conviveram lado a lado com regras religiosas, e, assim como o poder, se confundiram. Olho por olho, dente por dente. Será que Deus era contra esse tipo de atitude? E se fosse? Será que as pessoas conseguiriam separar o momento em que estavam fazendo algo por Deus e o momento que estavam fazendo algo porque é socialmente aceito?

Os códigos de leis existem desde 3.000 Ac, e neles existem aspectos derivados de crenças religiosas, inclusive as leis instituíam impostos para a manutenção de templos! Ou seja, já nesta época a religião se confundia com o Estado. Imaginem que, entre 20.000 Ac e 3.000 Ac, tudo bem que se passaram 17.000 anos, o que é um baita tempo, comparado com nossos míseros 200 - 250 anos após o iluminismo, onde o ser humano passa a acreditar que pode fazer do mundo um mundo melhor, independentemente das religiões seguidas. 

(Na verdade o iluminismo veio para quebrar a chamada idade das trevas, em que a Europa foi tão fortemente dominada pela igreja católica, que avanços tecnológicos eram permitidos somente pelo consentimento de Deus e uma bela propina para os padres, bispos e igreja católica.)

E aproveitando o ensejo, é este o ponto que eu gostaria de tocar: como pudemos permitir que algo que era para nos trazer respostas, com o tempo passa para nos orientar a viver em sociedade e com o tempo passa a controlar os avanços tecnológicos da humanidade? De repente o que era uma crença vira uma verdade absoluta controlada por padres e bispos inescrupulosos (estou falando aqui da idade média), que cobravam para fazer qualquer intervenção divina, que tolhiam qualquer fonte de diversão e prazer humano, que, na época da inquisição caçaram e mataram milhares de pessoas sob o pretexto da heresia!

Com o passar do tempo, esse estado de repressão religiosa começa a ser questionado, e paulatinamente a igreja Católica começa a sofrer revezes: ocorre, no século XVI a reforma protestante, e mais tarde, no final do século XVII acontece o iluminismo. Legal, melhorou, pudemos finalmente fazer a revolução industrial
demos grandes saltos tecnológicos, pudemos ver que a ciência não necessariamente se opõe a Deus e que a sociedade de direito pode viver separadamente das leis religiosas. Mas hoje ainda confundimos muito as coisas.

Hoje, se observarmos uma liturgia em qualquer igreja, encontramos: deveres e obrigações para com Deus; fé, fé, fé e mais fé; faça isso, não faça aquilo... espera um pouco. Não é mais fácil eu escolher o que eu quero? Não é mais fácil eu ter minha religiosidade, acreditar em Deus e segui-lo de acordo com as minhas próprias
crenças? É preciso seguir um livro, um padre, um código de conduta para que Deus veja minha obra na terra? Doe 10% do seu salário para Deus, ahem, igreja, né?

Sabem o que é o mais divertido e que demonstra a situação da religião hoje? 

Vou falar da igreja Católica que é a que eu conheço. Jesus Cristo foi considerado um revolucionário. Ele foi um líder sim, usando da religião para liderar seu povo. Havia uma lei do Império Romano, mas havia a religião cristã. Era uma subcultura. Antes daquilo, se observarmos o velho testamento, era contato direto
com Deus e Deus era um cara terrível! Ele nem precisava mandar matar, ele simplesmente mandava um dilúvio e dizimava a galera, se ele não estivesse feliz. Já com Jesus a religião ficou mais neoliberal... mais lulinha paz e amor... vcs entendem. Jesus instituiu uma série de regras, condutas, modo de agir, modo de pensar, e teve seu mérito: ele criou o senso de ajuda mútua entre os participantes de uma mesma religião! Ele fez uma comunidade! Ele fez uma comunidade de orkut antigo usando uma crença religiosa!!! Olhem as semelhanças: todos se sentiam amparados por Deus! Os membros da comunidade trocavam informações, se ajudavam mutuamente!

Aí que vem, sob o meu ponto de vista, o pulo do gato. Hoje a religião não é mais necessária para nos identificarmos com um grupo de pessoas. Hoje temos tribos temos nossas próprias comunidades, que tem seu próprio código de conduta, sua própria sub-cultura sob o sistema legal do país. A única diferença é que as tribos amaparam pessoas semelhantes, mas não promovem a salvação eterna! Então, pra que serve a religião? Vc se vê obrigado a frequentar uma igreja e seguir determinadas regras extremamente retrógradas em alguns casos, de uma comunidade inventada há 2.000 anos atrás pra pra conseguir aliviar sua ansiedade em relação a eternidade. Se todas as tribos hoje tivessem seu Deus particular, haveria necessidade de cultos, dízimos, regras sobre sexo só depois do casamento?

Depois vem um e me diz: po, mas a Igreja ajuda os pobres, faz boas ações. É, assim como ONGs, aliás, as ONGs são mto mais eficientes nisso. Elas são profissionais a profissão de padres é vender fé, esperança, conforto. Observem que está longe do propósito inicial da religião: oferecer explicações para o inexplicável.

Então pensem: pra que serve a religião? Como vc está vivendo sua fé? É do tipo de religião existente que nós precisamos mesmo? É seguindo as regras aprendidas numa missa que vamos alcançar a felicidade eterna? Não estou propondo uma revolução, na verdade a igreja já está sofrendo (como descrito acima) com sua incapacidade de adaptar-se a uma nova realidade. Estou propondo auto-conhecimento, ainda somos indivíduos, ainda precisamos de apoio e das comunidades, e ainda precisamos de fé. Mas todos temos o direito de escolher o que queremos, e o dever de pensarmos coletivamente sobre o futuro.

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