quinta-feira, 1 de julho de 2010

A grande descoberta: Arte.

Hoje eu entendi pq eu tenho uma certa aversão a coisas pop demais e/ou coisas artísticas demais.

O mundo da arte é um mundo esquisito, no meu ponto de vista, desde o modernismo. (entendam que eu não estou criticando o modernismo, ele abriu as portas para muita coisa artisticamente interessante acontecer, mas muita coisa ruim derivou dele... é disso que eu to falando) 

Até então os movimentos artísticos se davam em ondas que levavam anos, eventualmente séculos para se formar, se consolidar e evoluir para um novo movimento artístico. Passagens do barroco para o arcadismo, e depois para o romantismo demoraram mais de dois séculos para se concretizarem, e isso provavelmente foi dependente de uma série de fatores: a imprensa mal tinha surgido, meios de transporte, sociedade com valores mais rígidos, etc. Além disso, nessa época a população não era tão alfabetizada quanto é hoje, um artista deveria ser reconhecido apenas por quem entendesse do que ele estava "falando", mas isso não era fácil, já que haviam padrões artísticos mais rígidos. Por exemplo: poemas eram dotados de rimas, dodecassílabos heróicos (com a sexta e a décima segunda sílabas poéticas tônicas). Se você tentar, vai ver que é realmente um desafio escrever um poema desse nível. Assim como  Bach, mesmo ao criar a música mais simples: um minueto (que se trata de uma dança de salão), utilizava várias vozes cuja complexidade harmônica e melódica atingiam proporções razoáveis! Não vou dar exemplo de artes plásticas porque eu não manjo quase nada, mas pode acreditar que existem. 

Ou seja, antes do modernismo era complicado ser artista (tudo bem ainda hoje é complicado ser artista, mas eu acho que naquela época era mais! Essa discussão vou ter que deixar pro próximo post.), a coisa era fechada, você precisava seguir alguns padrões para entrar na brincadeira, uma vez dentro, você precisaria se destacar dentro desses padrões, e, finalmente, se você tivesse um passado relevante realizando trabalhos dentro de um padrão, você poderia experimentar novas versões ou mudanças estilísticas que, dali há muito tempo poderiam gerar um movimento artístico novo. Uma outra característica é que a arte refletia a sociedade. Não era usada como instrumento de ruptura, era usada como instrumento de descrição, quando muito crítica, porém, na maioria das vezes descrição da realidade sócio-cultural da época.

Até que surge o modernismo. O modernismo foi um movimento completo, que abrange mais do que mudanças culturais da época, é muito mais profundo e complexo do que eu imagino que seja (na verdade quero tomar o cuidado de não falar besteira porque eu sei que tem um monte de detalhes, não foi uma coisa única, não foi um movimento coordenado, mas a junção de vários movimentos isolados, etc. Entendo isso, mas houve uma transição, e essa transição se tornou caótica, como tento explicar daqui pra frente.), mas pra mim é se resume grosseiramente no seguinte: sofre influência clara do marxismo, que prega a revolução, e até hoje a maioria dos artistas são esquerdistas... por que será, né?! Então o modernismo é o movimento artístico revolucionário por si só: quebra das "regras" que eu estou chamando de padrões artísticos como as rimas ou a métrica em um poema, como a melodia ou a harmonia em uma música, como padrões estéticos nas artes plásticas, como linhas de diálogos nas artes cênicas, e assim por diante. O que realmente, sob um ponto de vista é muito bom, afinal, deixa o artista mais livre para usar a base para sua arte: a criatividade (volto aqui depois). Além disso o modernismo tenta popularizar a arte, torná-la mais simples para que todas as classes sociais possam apreciá-la (olha a beleza do marxismo fazendo efeito novamente), tanto que da linguagem culta, passamos para a linguagem um pouco mais coloquial na literatura. Tanto que de quadros com sombra de sombra e cores imitando a perfeição passamos para quadros simples na forma, no desenho, no acabamento, etc.

Mas acho que a idéia do modernismo, embora interessante, deu um tiro no pé do que é arte! Hoje, voltando ao tema de ser artista, pode não ser a coisa mais fácil do mundo ser artista. Mas vocês consideram a eguinha pocotó coisa de artista?! Pois é, tem um sucesso do caraleo! Vocês consideram cantores de axé music artistas?! Terreno difícil esse, né? Não é possível dizer que a Ivete Sangalo ou que a Claudinha Leitte não entendam de música.... elas têm ouvido absoluto e se cercaram de profissionais formados em música. (as bandas de ambas são muito boas) E sertanejo?! E aqueles desenhistas que espõem seus quadros na feirinha do MASP no domingo?! E esse monte de poetas que publicam livros e mais livros cujos poemas são meia dúzia de palavras escolhidas aleatoriamente colocadas na vertical?! Hoje arte pode ser qualquer coisa... e aí, em vez de valorizar o trabalho dos artistas que estudaram arte, que desenvolveram suas técnicas, que aprenderam história, souberam contextualizar seus trabalhos e até por meio dos seus trabalhos questionaram, incomodaram e revolucionaram, hoje esses artistas disputam espaço com aquele monte de mané que nunca estudou nada, não tá nem aí com porra nenhuma, pintou o cabelo de amarelo, montou uma banda de pagode, pôs nome de samba, e vendeu milhões de discos com o aval do Faustão e da Rede Globo!!!! 

Hoje, qualquer retardado que queira inventar poesia, tem liberdade para escrever meia dúzia de rimas sem singificado nenhum e chamar aquilo de poesia! Hoje, qualquer esperto que tenha uma tela, pode escolher meia dúzia de formas geométricas, empilhar de forma esquisita e chamar isso de arte abstrata.

Ah, mas os artistas verdadeiros acabam se sobressaindo. Não necessariamente. A revolução alcançada pelo modernismo foi tamanha, que antes, quem era ignorante (no sentido de não saber as coisas) se via obrigado a estudar para compreender o que era arte. Hoje tudo é arte! Então quem é ignorante acha bonito ser ignorante! É moderno! É revolucionário!.... é ridículo! E viva a mediocridade! Porque antes, o que servia de  inspiração agora é sinônimo de arrogância! Sério, tem gente que faz um curso de férias, cria uma gororoba de barro e tenta vender por 100 reais. Pior: tem idiota que compra! Mas, compramos de tudo, né? Compramos Zé do Caixão... que agora virou Cult. Compramos Paulo Coelho (que, não dá pra acreditar, que é considerado literário... queria saber o animal que bebeu Bardhal e disse uma coisa dessas)... até o funk! Depois disso, não precisa falar mais nada, né. Agora tá mais claro pq eu odeio Pop. É bonitinho, é razinho, é fraquinho, mas é arte! Pior: é arte POP (não confundam com Pop Art do Andy Warhol)! Argh... vontade de vomitar.

E mais ridículo que isso são aqueles do outro lado que leram meia dúzia de livros considerados literários, viram meia dúzia de quadros e assistiram meia dúzia de filmes e saem de peito estufado falando difícil sobre a obra cinematográfica de um diretorzinho B porque o cara teve uma visão que mesclava Tarantino com Alfred Hitchcock (sabê lá eu como se escreve essa porra de nome). Nesse caso, viva a ignorância alheia, porque em vez de explicarem, se fecham em clubes cada vez mais pseudo-intelectualóides como se fossem intocáveis pelo resto do universo. Aí nego inventa musiquinhas indaudíveis, usando instrumentos feitos da unha do tigre branco do tibete, enfia junto com uma orquestra e meia dúzia de guitarras de heavy metal e se chama de gênio incompreendido... Aquela história de ruptura virou moda, então, quanto mais maluco, mais legal, maus cult, mais arte é... Pra mim, mais lixo é. Aí temos arte dos rabiscos, arte dos pontinhos, arte da música estridente, arte do filme sem começo-meio-fim, e de repente, tudo que é diferente é cult.... só por ser diferente! Ridículo! Daí que eu odeio esse negócio artístico demais: é pedante, incompreensível, muitas vezes é feio e o custo-benefício quase sempre não vale a pena.

E o artista?! Bom, esse fica pra próxima.