quarta-feira, 19 de maio de 2010

Pobre de mim que não tenho tribo!

Aqui em São Paulo parece que as pessoas vivem ondas tribais. É um evento sociologicamente muito interessante: quando cheguei em Sampa, há uns 12 anos, existiam os playboys e os manos. A coisa era engraçada porque os playboys se vestiam com camisas polo Rauph Lauren e os manos com calças largas estilo skatistas. Os playboys ouviam o techno e os manos ouviam hardcore... e assim por diante. Conforme o tempo foi passando fui aprendendo mais sobre a cidade e descobri que a cidade tem várias facetas, e é de uma biodiversidade, como eu costumo dizer, fantástica: hoje se encontram na cidade: emos, pattys, playboys, boys da mooca, surfistas, galera do MPB, galera do samba rock, pagodeiro, skinheads, punks, esportistas, e um monte de outras coisas.

Como eu disse aqui, odeio o que é pop, e o pessoal mais pop são os playboys. Então tenho uma certa birra deles porque rola uma coisa meio vazia, um modismo idiota: antes os playboys gostavam de baladas-padrão. Todo mundo vestido de Polo Ralph Lauren da cabeça aos pés, depois veio a moda do axé, e aí todos os playboys do mundo viraram micareteiros, e agora a moda é sertanejo, e todos os playboys adoram o que mais odiavam há 10 anos atrás! E isso vai passar, e eles vão passar a odiar outras coisas. Quando você perguntava pra algum playboy se gostava de axé ele dizia: isso é coisa de baiano! Aí, no auge do axé, vc perguntava por que o axé? Ele dizia: é a energia do lugar! É tudo maravilhoso! As pessoas felizes! A balada! Juro que nem me pus a perguntar sobre o sertanejo... pq realmente não estou afim de ouvir a justificativa. E é assim: gosta de uma coisa, passa a odiar a outra, depois gosta de outra e passa a odiar outra... é um movimento de massa ridículo. O meu problema com isso é que isso vira um padrão de comportamento: não sei como classificar aquele povo que veste camisa polo com faixas horizontais a la time de rugby, mas outro dia fui no Ásia 70 acompanhar um camarada, TODOS os homens da balada estavam usando o mesmo padrão! É uniforme?! É novela?! Se for novela mesmo jajá vem a moda de todo mundo andar de cadeira de rodas, né... ou eu estou muito desatualizado?

Esse padrão de comportamento mexe com a cabeça das pessoas. Parece que para quem vive a realidade de uma tribo, acaba aderindo tanto ao comportamento que vira escravo do comportamento daquela tribo. O pessoal do rock´n´roll bebe pra caramba e não faz esportes. O pessoal dos esportes acorda cedo e vive uma vida extremamente natural. O pessoal do eletrônico não vai de jeito nenhum numa balada rock, o pessoal q frequenta a Augusta odeia a Vila Madalena e vice-versa. Tudo bem, gostos diferentes comportamentos diferentes. Mas por que eu não posso gostar das 2 coisas?!

E aí vem a parte pessoal da história:
Eu adoro esportes, adoro beber, adoro bares sofisticados e adoro botecões pé-sujo. Adoro vinho, mas tomo cerveja e pinga. Adoro rock, e ouço eletrônico tanto quanto. Não me importo de ouvir MPB, gosto de jazz e chorinho. Por que as pessoas são tão taxativas e restritivas para algumas coisas? Pior, por que são taxativas para algumas coisas que nem experimentaram?! É interessante e muita gente com certeza vai dizer: porra, mas vc é preconceituoso pra caraleo! Olha só teu blog! Sim, eu tenho meus pré-conceitos, mas eu sou totalmente à favor da experimentação. Acho que não preciso me justificar mais do que isso. Se não gosto de alguma coisa, vai ser muito difícil me convencer a gostar dela... muito menos por modismo! Sabe o que acontece? (pobre de mim! kkk) Eu não encontro uma pessoa eclética nessa cidade! Eu encontro várias pattys que não pisam no bar do Leo ou num boteco da Augusta! Eu encontro moças maravilhosas numa balada eletrônica que nunca pisariam num show do RockStock no Café Piu Piu... Eu estou desistindo de procurar alguma parceira de corrida aos sábados de manhã que tope tomar cerveja até tarde na sexta-feira à noite!

Isso me faz pensar se essas pessoas que vivem assim o fazem porque foi uma escolha consciente do que acreditavam que gostavam mais ou se é porque elas vivem com um grupo de pessoas que não faz outra coisa a não ser aquilo que sempre fizeram, então elas não conseguem olhar nada por outro ângulo. Entenderam? hehehehe O ponto é: estamos conscientes do que realmente gostamos ou estamos deixando nos levar por imagens, movimentos de manada incorporados pelo grupo em que participamos? Precisamos ser escravos de comportamentos pré-determinados pela imagem que queremos passar? Claro que eu não sou isento disso! Às vezes me pego falando uma dessas besteiras que eu mesmo odeio ouvir. Felizmente meus amigos me mostram que eu to sendo um puta de um babaca quando eu faço isso... e sim, fico com vergonha. Mas po, vamos viver a diversidade e experimentar os nossos próprios gostos!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Temaless

Conversas filosóficas fazem falta na minha vida. Faz tempo que estou esperando por uma que seja excitante o suficiente para trazer um novo tópico para o blog, mas parece que a vida anda meio efêmera, sem mesas de bar suficientes e horas de sono insuficientes que justifiquem um embate filosófico motivante...

Na verdade fico pensando se as pessoas se preocupam com esse tipo de coisa. Eu vejo as pessoas conversando e parece que tá tudo bem! Parece que elas vão passar as vidas delas felizes com cada coisa que fizeram... e parece que fizeram tudo sem questionar nada, ou questionar muito pouco. De duas uma: ou as pessoas têm uma convicção enorme do significado particular que a vida tem para elas, ou elas nem sequer perceberam o tanto que a vida é um negócio importante.

Com certeza o mais mal resolvido sou eu! hehe Com certeza sou eu que fica analisando qualquer fato diferente que acontece na vida e que se questiona sobre um monte de coisas que, muitas vezes realmente não faz muito sentido que sejam questionadas.

A coisa é mais feia do que parece pra mim, porque, para qualquer questão dessas surgem 3 alternativas padrão:

1 - As coisas são assim mesmo, é esse o curso da vida e do universo, não se preocupe, tudo vai se justificar um dia e o fato de vc se esforçar mentalmente não vai resultar em nada.
2 - As coisas são igual sua mente manda que elas sejam, então, pra vc vai fazer uma baita diferença. Você vai sim se sentir super satisfeito de desvendar um mistério ou encontrar uma lógica ou um padrão que justifique qualquer coisa no mundo. Mas vai morrer com esse segredo.
3 - Você está certo. O fato de vc pensar nisso e tentar, de alguma forma, ainda que seja por meio de um blog pouco visitado fazer a diferença fazendo quem quer que seja ler a sua racionalização.

O grande problema é que eu tenho 2 opiniões que são um desestímulo e 1 que é um estímulo. Acho legal descobrir as coisas para satisfazer meu maldito senso de importância que meu ego me impulsiona a fazer, mas seria muito mais legal mudar de alguma forma pessoas com quem convivo ou o mundo! (Momento Pink e Cérebro).

Não quero me alongar nesse texto de filosofia barata. Mas deixo uma pergunta simples: Essas 3 alternativas fazem sentido? Ou estou perdendo alguma coisa? Se elas fazem sentido, vale a pena se questionar? E se vale a pena se questionar?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A arte de se desculpar

Uma coisa que tem me incomodado é que as pessoas não pedem desculpas mais. Não entendo se é pura falta de educação, orgulho próprio, se é medo, se é por pensarem que você continuará sendo o babaca afetado pela filhadaputice que a pessoa fez, e portanto, desculpas não faria a menor diferença... enfim, não se pede desculpas mais!

Situação 1: Coisa mais besta do mundo: fila do supermercado para pesar as frutas. Você vai se aproximando quando de repente uma mulher que você percebe que é visivelmente mãe de família entra correndo na sua frente e joga as verduras dela na balança.
 _ Calma moça, eu só ia pesar estas laranjas.
 _ É, mas eu cheguei primeiro!
 _ Não, a senhora pulou na minha frente, mas tudo bem... parece que 30 segundos vai ser o fim-do-mundo mesmo...
Aí a mulher olha com cara de 'tô pouco me fodendo' pega as coisas dela e sai apressada. O cara que tava pesando impávido, como se aquilo acontecesse o tempo todo!

Situação 2: Procura de mesas para almoçar no shopping. Como todos estavam fazendo, deixamos o nosso crachá para reservar os lugares e saímos para comprar nossos pratos. De repente eu olho e vejo um pessoal sentado na nossa mesa. Aí vou lá falar com o pessoal e chego educado:
 _ Cara, essa mesa nós estávamos deixando reservadas pra gente.
 _ É, mas quem tá sentado aqui agora sou eu, e vaza que eu não tô com paciência...
Dispensa comentários.

Situação 3: Estou chegando em casa de carro umas 19 horas e minha rua não permite estacionar até as 21 horas. O carro que estava imediatamente à minha frente entrou na guia rebaixada da minha garagem, mas não entrou na garagem, ficou parado no meio da calçada. Aí o sujeito desceu do carro calmamente, abriu o porta-malas, pegou uma mala, levou até a guarita do prédio, conversou com o porteiro... tudo isso em mais ou menos uns 5 minutos, sem pressa nenhuma! Isso no meio da hora do rush, e eu atrapalhando o trânsito inteiro atrás de mim porque o belezão resolveu usar a entrada da minha garagem como estacionamento! Quando ele tava saindo eu gritei:
_PORRA! TU É FOLGADO PRA CARALEO HEIN?!
Ele falou qualquer coisa me desafiando!

Bom, não preciso dar mais exemplos, mas vê se pode! Em todos os casos as pessoas sabiam que estavam fazendo coisas erradas! Elas sabiam que iriam atrapalhar alguém, que iam fugir das regras básicas de educação... é, eu posso estar errado, porque o jeito que eu fui educado pode ter sido totalmente diferente do jeito dessas pessoas, né... eu posso ter sido educado para ajudar as pessoas... e essas pessoas podem ter sido educadas simplesmente para fazer o melhor para elas só. Se for assim tudo bem, afinal de contas, ignorância é uma bênção protegida até pela Igreja Católica! Segundo a Igreja Católica quem peca sem saber que está pecando vai pro céu!

O meu nível de indignação aumenta não porque essas pessoas fizeram o que fizeram. Aumenta porque fizeram deliberadamente sem nada que justificasse! E pior: ainda, sabendo que fizeram coisa errada, e sabendo que incomodaram alguém e ainda retrucar mal educadamente! Como se quem estivesse errado fosse a pessoa 'agredida'! Será que a mensagem é assim: "você que é um babaca e tenta fazer as coisas certas! Por que não faz nada errado?! Faça errado aí vai ser igual todo mundo! Aqui é o mundo dos 'leva vantagem'!!!

(Porque uma coisa é fazer uma coisa errada e não incomodar ninguém... pra mim tudo bem, o problema é seu... eu acho... vai saber... tem aquela história de efeito borboleta, né? Que eu particularmente acho uma puta babaquice, se fosse assim precisaríamos de uma prisão de Foucault, big brother do George Orwell ou coisa parecida pra fiscalizar todo mundo em tempo integral...)

Mas o que me deixa mais indignado é saber que essas pessoas são férteis! Juro: um filho de uma boa mamãe desses aí é plenamente capaz de procriar! O desgraçado vai ter pequerruchos delinquentes educados a fazer o que?! Imagina só!!!! Meus filhos, que receberão uma educação parecida com a minha vão ser obrigados a viver no mesmo mundo, na mesma sociedade que esse tipo de gente! E se quiserem, podem me chamar de racista, de panelista, de louco, do que quiserem, mas depois me perguntam por que eu não acredito na educação brasileira, pra mim a resposta está aí! E mais: se eu pudesse segregar esse povo, eu segregaria, com o maior prazer! Olha a ótima contribuição para a vida em sociedade que eles estão dando.

A conta é muito simples: o homem é um ser social, e como tal, deve saber viver em sociedade, senão ele não sobrevive, não evolui, definha, morre, não procria, e se não procria, não contribui biologicamente para o futuro da humanidade. Enfim, um animal desses sabe viver em sociedade? O cara que não tem condições de viver em sociedade, por mim pode ser dispensado dela. Até professores fazem isso: se está atrapalhando os coleguinhas a assistirem a aula, botam pra fora da classe.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Religião - Final (UFA!)

Um detalhe que não foi apresentado, mas que acompanhou todo esse processo, é que as regras sociais conviveram lado a lado com regras religiosas, e, assim como o poder, se confundiram. Olho por olho, dente por dente. Será que Deus era contra esse tipo de atitude? E se fosse? Será que as pessoas conseguiriam separar o momento em que estavam fazendo algo por Deus e o momento que estavam fazendo algo porque é socialmente aceito?

Os códigos de leis existem desde 3.000 Ac, e neles existem aspectos derivados de crenças religiosas, inclusive as leis instituíam impostos para a manutenção de templos! Ou seja, já nesta época a religião se confundia com o Estado. Imaginem que, entre 20.000 Ac e 3.000 Ac, tudo bem que se passaram 17.000 anos, o que é um baita tempo, comparado com nossos míseros 200 - 250 anos após o iluminismo, onde o ser humano passa a acreditar que pode fazer do mundo um mundo melhor, independentemente das religiões seguidas. 

(Na verdade o iluminismo veio para quebrar a chamada idade das trevas, em que a Europa foi tão fortemente dominada pela igreja católica, que avanços tecnológicos eram permitidos somente pelo consentimento de Deus e uma bela propina para os padres, bispos e igreja católica.)

E aproveitando o ensejo, é este o ponto que eu gostaria de tocar: como pudemos permitir que algo que era para nos trazer respostas, com o tempo passa para nos orientar a viver em sociedade e com o tempo passa a controlar os avanços tecnológicos da humanidade? De repente o que era uma crença vira uma verdade absoluta controlada por padres e bispos inescrupulosos (estou falando aqui da idade média), que cobravam para fazer qualquer intervenção divina, que tolhiam qualquer fonte de diversão e prazer humano, que, na época da inquisição caçaram e mataram milhares de pessoas sob o pretexto da heresia!

Com o passar do tempo, esse estado de repressão religiosa começa a ser questionado, e paulatinamente a igreja Católica começa a sofrer revezes: ocorre, no século XVI a reforma protestante, e mais tarde, no final do século XVII acontece o iluminismo. Legal, melhorou, pudemos finalmente fazer a revolução industrial
demos grandes saltos tecnológicos, pudemos ver que a ciência não necessariamente se opõe a Deus e que a sociedade de direito pode viver separadamente das leis religiosas. Mas hoje ainda confundimos muito as coisas.

Hoje, se observarmos uma liturgia em qualquer igreja, encontramos: deveres e obrigações para com Deus; fé, fé, fé e mais fé; faça isso, não faça aquilo... espera um pouco. Não é mais fácil eu escolher o que eu quero? Não é mais fácil eu ter minha religiosidade, acreditar em Deus e segui-lo de acordo com as minhas próprias
crenças? É preciso seguir um livro, um padre, um código de conduta para que Deus veja minha obra na terra? Doe 10% do seu salário para Deus, ahem, igreja, né?

Sabem o que é o mais divertido e que demonstra a situação da religião hoje? 

Vou falar da igreja Católica que é a que eu conheço. Jesus Cristo foi considerado um revolucionário. Ele foi um líder sim, usando da religião para liderar seu povo. Havia uma lei do Império Romano, mas havia a religião cristã. Era uma subcultura. Antes daquilo, se observarmos o velho testamento, era contato direto
com Deus e Deus era um cara terrível! Ele nem precisava mandar matar, ele simplesmente mandava um dilúvio e dizimava a galera, se ele não estivesse feliz. Já com Jesus a religião ficou mais neoliberal... mais lulinha paz e amor... vcs entendem. Jesus instituiu uma série de regras, condutas, modo de agir, modo de pensar, e teve seu mérito: ele criou o senso de ajuda mútua entre os participantes de uma mesma religião! Ele fez uma comunidade! Ele fez uma comunidade de orkut antigo usando uma crença religiosa!!! Olhem as semelhanças: todos se sentiam amparados por Deus! Os membros da comunidade trocavam informações, se ajudavam mutuamente!

Aí que vem, sob o meu ponto de vista, o pulo do gato. Hoje a religião não é mais necessária para nos identificarmos com um grupo de pessoas. Hoje temos tribos temos nossas próprias comunidades, que tem seu próprio código de conduta, sua própria sub-cultura sob o sistema legal do país. A única diferença é que as tribos amaparam pessoas semelhantes, mas não promovem a salvação eterna! Então, pra que serve a religião? Vc se vê obrigado a frequentar uma igreja e seguir determinadas regras extremamente retrógradas em alguns casos, de uma comunidade inventada há 2.000 anos atrás pra pra conseguir aliviar sua ansiedade em relação a eternidade. Se todas as tribos hoje tivessem seu Deus particular, haveria necessidade de cultos, dízimos, regras sobre sexo só depois do casamento?

Depois vem um e me diz: po, mas a Igreja ajuda os pobres, faz boas ações. É, assim como ONGs, aliás, as ONGs são mto mais eficientes nisso. Elas são profissionais a profissão de padres é vender fé, esperança, conforto. Observem que está longe do propósito inicial da religião: oferecer explicações para o inexplicável.

Então pensem: pra que serve a religião? Como vc está vivendo sua fé? É do tipo de religião existente que nós precisamos mesmo? É seguindo as regras aprendidas numa missa que vamos alcançar a felicidade eterna? Não estou propondo uma revolução, na verdade a igreja já está sofrendo (como descrito acima) com sua incapacidade de adaptar-se a uma nova realidade. Estou propondo auto-conhecimento, ainda somos indivíduos, ainda precisamos de apoio e das comunidades, e ainda precisamos de fé. Mas todos temos o direito de escolher o que queremos, e o dever de pensarmos coletivamente sobre o futuro.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O que é religião? - Parte II

Pois bem, quase um ano depois segue o texto:

Acontece que com o desenvolvimento da sociedade, a religião se misturou com a figura dos líderes, dos mais velhos e assim por diante, talvez por vários motivos: falta de gente, conveniência do líder do grupo, falta de conhecimento sobre a própria organização social, etc.

Agora vamos fazer aquele exercício de imaginação: imagine vc sendo responsável tanto pela coordenação do grupo de indivíduos (lembrem-se que ainda não evoluímos muito além dos 20.000 Ac ao qual me referi no texto anterior). Você, além de ter que descobrir novas fontes de alimentos, se comunicar com tribos vizinhas, organizar as coisas no seu próprio grupo, vc ainda tem o papel de conduzir espiritualmente o grupo. Qualquer pessoa que já liderou um grupo sabe o tanto que pode ser difícil conquistar a confiança de todos, conquistar o respeito de todos, conseguir deixar todos minimamente satisfeitos com as decisões que tomou. Só que aí acontece uma coisa interessante: do líder, muitas vezes as pessoas não têm medo, nem respeito, nem nada... mas de Deus! Ahhhh Deus é foda! Diz pra alguém que Deus está vendo, e que sua alma será amaldiçoada! Resultado: se você for o líder, e alguém te questionar? Qual é o caminho mais fácil? Convencer a pessoa... ou apelar pra Deus?

Precisamente aí teremos talvez o ponto em que a religião deixa de ter um objetivo de responder às dúvidas mais básicas da existência humana e passamos a usá-la como meio de manipulação de massas.

E lá foi a humanidade, as famílias passaram a tribos, as tribos passaram a clãs, os clãs passaram a povoados, os povoados passaram a povos, os povos tornaram-se civilizações. E de repente, vc tem milhares e milhares de escravos trabalhando para a construção de uma pirâmide a título de que?! Será que os escravos estavam
totalmente comprometidos com a idéia de que os Deuses demandavam as pirâmides? Será que os próprios sacerdotes acreditavam indiscutivelmente que as pirâmides deveriam ser feitas para melhorar o "relacionamento" dos homens com os Deuses? Ou será que as pirâmides foram construídas somente a título de fazer com que o líder da sociedade tivesse uma entrada mais "tranquila" no reino dos mortos?

Daí para frente o mundo nunca mais foi o mesmo: a religião passa a integrar a política e a economia, isso porque ninguém vendia santinhos entalhados em madeira nessa época!

Não que a religião tenha se tornado tão subversiva que desde aquela época o mundo vai de mal a pior por causa dela. Pelo contrário: a religião deu início às discussões filosóficas na grécia antiga. Os primeiros textos filosóficos são debates sobre as forças da natureza, que envolviam também o conhecimento das
capacidades dos deuses. Mas, se fosse só isso seria ótimo, né? O problema é que o ser humano tem um péssimo hábito de não gostar de vizinhos cujos costumes sejam diferentes dos seus, muito menos de vizinhos que prosperem mais rapidamente e possam ameaçar invadir sua casa... A essa altura já haviam diversos povos e civilizações, bem como diversas religiões. E, como dito acima, o líder vai usar de todo o poder de convencimento dele para provar que a direção que ele decidiu para o seu povo é a melhor, inclusive usando da religião. Aliás, se vocês não quiserem lutar por mim ou pelo povo, lutem por Deus! Que tal esse argumento?

O mais impressionante é que se passaram mais de 20.000 anos e ainda não percebemos que a religião é sim algo interessante e que nos traz alívio e conforto, mas o custo que a própria humanidade pagou para sustentar as suas crenças religiosas foi altíssimo, e este custo está longe de terminar. Porque ainda hoje travamos guerras religiosas, ainda estamos sujeitos ao lado "manipulativo" das religiões em todo mundo.

Será que somos realmente livres? Existe liberdade?

No próximo texto entrarei no assunto mais espinhoso de todos: como a religião se funde com nosso dia-a-dia e as armadilhas a religiosas a que provavelmente estamos sujeitos.