quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Foi dada a largada...

Eu tinha idéias mais arrojadas para postar no blog, mas é melhor cuidar do que está acontecendo agora para não perder o timming, se é que vocês entendem:

Dois assuntos chamam a atenção e nos dá uma noção da palhaçada que sucederá o nosso palhaço-mor:
  1. A desvalorização do dólar
  2. Impostos
Vamos falar da desvalorização do dólar:

Pra quê serve um real desvalorizado (ou um dólar valorizado)? Até onde eu entendo, e não há problema em discordarem de mim, basta me explicarem (se eu estiver incorreto), a resposta é uma só: para que o Brasil consiga exportar mais, provocando uma balança comercial superavitária.

Ou seja: 
- Se o dólar = real (ex: US$ 1,00 = R$ 1,00), tudo o que você compra aqui no Brasil teoricamente tem o mesmo valor do que vc importaria dos EUA. 

- Se o dólar > real (ex: US$ 1,00 = R$ 2,00), você precisa de dois reais para comprar um dólar americano, então, um laptop que você pagaria R$ 1.000,00 na opção anterior se transforma automaticamente em R$ 2.000,00. Da mesma forma uma tonelada de ferro que a Vale (empresa brasileira) venderia para os EUA por R$ 160,00 vai ser vendida por R$ 80,00 (esses valores não são reais). Vejam que fica mais barato pros EUA comprarem ferro no Brasil quando o dólar está valorizado.

O fato de hoje o câmbio brasileiro estar a US$ 1,00 = R$ 1,70 (maizomeno) faz com que seja interessante pros EUA comprar matérias primas brasileiras, porque o valor é mais baixo.

Ocorre que nos últimos 2 anos quem tem se desvalorizado é o dólar... e o Brasil está com mais dificuldade de exportar.
Por quê? Porque a mercadoria no Brasil não é a mais barata.
Por quê? Porque o Brasil não consegue produzir as coisas da forma mais barata.
Por quê? Porque o Brasil tem:
  • Altos tributos: não sei direito, mas os que oneram a produção de produtos para exportação são o IR, PIS, COFINS.
  • Falta de automatização (aquela coisa q a professora de geografia do primário falava pra vc tem seu fundo de verdade)
  • Mão-de-obra cara (lembrem-se que o Lula resolveu promover aumento real do salário mínimo)
Ou seja, o Brasil NUNCA vai conseguir produzir coisas de forma mais barata que a China, que tem uma carga tributária mais enxuta e uma mão-de-obra quase que escrava. O Brasil não será um país exportador NUNCA. Mas ainda assim a balaça comercial com mais dólares entrando do que saindo (balança superavitária) é importante para a saúde financeira do país. Então o que o Brasil tem que fazer pra continuar exportando? Desvalorizar o real!

#Comofaz?

Duas opções usadas:
  • O Banco Central compra dólares, diminuindo a oferta de dólares no Brasil. O raciocínio é mais ou menos o seguinte: sabe por que um diamante custa caro? Porque existe pouco diamante no mundo. Então o Banco Central compra dólares e diminui a oferta no Brasil, quando há pouco dólar, o dólar fica mais caro, ou seja, o real fica desvalorizado. Quais são os problemas aqui? Para comprar dólar, precisa de dinheiro! O Banco Central não pode sair comprando dólar a torto e a direito, porque dinheiro custa caro! O Banco Central não pode ficar cheio de dólares, porque dólar não faz nada no Brasil, e também não pode ficar sem reais, porque o Banco Central tem as contas do governo inteiro pra pagar! O outro problema é que é de curto prazo, logo logo mais dólares entram no Brasil por conta da taxa de juros e outros investimentos no país e o real volta a se valorizar.
  • O Brasil diminui o fluxo de dólares entrando no país. O raciocínio é o mesmo de cima, só que ao invés de exugar o mercado, o governo diminui a entrada, o resultado é o mesmo: menos dólares no brasil. Como é feito? Aumento da alíquota do IOF, que é o Imposto sobre Operações Financeiras. Investidores que quiserem investir no país terão que pagar uma taxa de imposto, transferências financeiras entre bancos, bancos e empresas e outras transferências serão taxadas mais agressivamente. Qual é o problema aqui? Do meu ponto de vista o problema aqui é menor, porque isso trava um pouco as operações financeiras do país, ao mesmo tempo que gera mais dinheiro pro governo. Só que, como é um imposto para as empresas e bancos, o valor da mercadoria aumenta um pouco... (é, economia é um saco, tudo impacta tudo... é uma merda)
Opção não usada:
  • Diminuir a carga tributária: diminuiria o custo do que é produzido no Brasil, então a necessidade de ter um real tão desvalorizado diminuiria. Esta seria uma solução mais razoável no longo prazo. Fora que essa solução aumenta a competitividade efetiva da indústria brasileira internacionalmente. Qual o problema? O problema é que o Bolsa Família, o programa Minha Casa Minha Vida, o aumento real do salário mínimo, e os PACs consomem uma grana gingantesca do orçamento do Governo, e por isso é muito, mas muito difícil que essa opção seja usada. Hoje temos uma possibilidade ínfima, justamente porque os partidos coligados ao PT são maioria nas duas casas do congresso... além disso, a dona Dilma já anunciou que será feita a reforma tributária, como a dona Dilma não deu prazo nenhum pra isso acontecer, é sentar e esperar.

Na última semana o Ministro Guido Mantega adotou a medida do IOF acima, para impedir a valorização do real. Essa semana os EUA injetaram mais US$ 600 bilhões na economia americana. Esse dinheiro vai pra tudo quanto é canto do mundo, inclusive o Brasil. A conta no detalhe é coisa pra economista, mas se alguns bilhões de dólares entrarem no país, a moeda brasileira vai se valorizar novamente. Adivinha o que vai acontecer? Anular a medida do ministro.

Bom, espero que com este texto seja possível perceber algumas coisas:
  • Como resolver uma questão econômica no país é complexo
  • Como uma ação do governo impacta uma montanha de coisas na economia e na vida do brasileiro
  • Como, por mais que a intenção de curto prazo seja boa, no longo prazo as coisas podem ser diferentes
  • Como hoje não são tomadas providências políticas de longo prazo, e como é difícil fazer isso
  • Como pagar mais impostos vai ser um negócio difícil. O governo depende deles e nunca na história "destepaís" se gastou tanto em obras (PACs) como está se gastando agora... vamos ver se isso vai gerar retorno...
E imaginar algumas outras coisas:
  • Se resolver essas questões é algo complexo, um dirigente, seja um ministro, seja o presidente, tem que ter no mínimo uma noção das consequências das ações que toma, pq pode por o país inteiro na merda por conta disso
  • Será que a equipe de ministros (que provavelmente, por conta dos acordos políticos, serão do PMDB) são tão capazes assim?
  • Agora que o PT finalmente tem a maioria do congresso nacional, será que ele irá tomar as ações no longo prazo?
  • Será que a nossa presidenta ex-guerrilheira tem noção de tudo isso acima? (isso pq eu só coloquei alguns conceitos básicos e genéricos)
Mas esse texto é apenas a largada... haverá muitas outras corridas nesse rally que o Brasil vai passar nos próximos 4 anos. 

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