quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Surrealismo Brasileiro

Sabia que a descoberta da arte resultaria em alguma coisa mais interessante.

Do nada descobri uma nova forma de mostrar que: ou o povo brasileiro é muito sugestionável e está realmente metendo os pés pelas mãos politicamente (pra não dizer que o povo brasileiro é cego e não enxerga o tamanho do cachimbo diante dos narizes deles) ou o Lula e o PT são realmente artistas do surrealismo e nós estamos acreditando que o que vemos não é um cachimbo....


Peraí, cachimbo?! É, tenham um pouco de paciência e acompanhem o raciocínio:

Hoje estava discutindo uma questão no trabalho de como é difícil pro cliente às vezes enxergar o real benefício de uma estratégia para uma empresa. Estratégia muitas vezes é algo intangível, é difícil mesmo, a estratégia dificilmente consegue ser quantificada numericamente para dar total segurança aos estrategistas (leia-se conselho de administração e presidência das empresas) de que haverá retorno financeiro sobre os investimentos provocados pelas iniciativas estratégicas. A pergunta era: como fazer as pessoas enxergarem as diferenças, as nuances? Às vezes os clientes olham o resultado de um planejamento estratégico e surgem iniciativas do tipo: mapear e otimizar os processos da operação de vendas. Aí o conselheiro ou presidente da empresa diz: Porra, mas isso eu já sabia! E aí é que ele se engana, porque ele não sabia! Ele sabia um monte de pequenas partes do problema, e nunca tinha tido uma visão do todo pra enxergar a real necessidade de se mapear e otimizar os processos da operação de vendas, tanto que, se ele sabia, por que nunca tomou a iniciativa? É que quando o quadro geral, visão do todo, "helicopter view" (como quiserem chamar) é apresentado, a pessoa acha que já sabia de tudo!

O que me fez pensar em gestalt. O que é gestalt?! É uma teoria de psicologia:

"Segundo a Gestalt o cérebro é um sistema dinâmico no qual se produz uma interacção entre os elementos, em determinado momento, através de princípios de organização perceptual como: proximidade, continuidade, semelhança, segregação, preenchimento, unidade, simplicidade e figura/fundo. Sendo assim o cérebro tem princípios operacionais próprios, com tendências auto-organizacionais dos estímulos recebidos pelos sentidos."
Fonte: Wikipédia (sei q a fonte não é de todo confiável, mas resume bem o significado)


A gestalt produz um efeito chamado fechamento, que faz com que o cérebro tente adivinhar, organizar, encaixar, continuar, etc, coisas que ele acha que estão incompletas por conta da experiência sensorial anterior. Vejam só alguns exemplos famosos:


Rostos ou cálice?
Moça ou velha?
Ok. Um exemplo menos óbvio:


Essa vou deixar pra vcs
E para mostrar como o fechamento é algo forte no nosso cérebro, é possível demonstrar que às vezes gera um desconforto muito grande quando alguma coisa não cumpre com a "lógica de fechamento" do cérebro. Podemos ficar dias olhando esta próxima figura e mesmo depois de dias esta figura produzirá estranhamento:
Fazendo apenas uma ligação com a arte: existem artistas especializados em gerar esses dilemas "gestaltianos"


Seguindo, pensando um pouco, e extrapolando o raciocínio, eu comecei a perceber que não são só presidentes e conselheiros de empresa que sofrem desse problema. Pensem num jogo de futebol, de longe o assunto mais falado no Brasil (eu admito que não entendo nada de futebol, e realmente não entendo nada de muita coisa), em um lance duvidoso: foi falta ou não foi falta? Gestalt explica parcialmente: por "fechamento" um torcedor do time que supostamente sofreu a falta pode enxergar falta, assim como por "fechamento" um torcedor do time que supostamente causou a falta pode não enxergar nada. E aí? Como resolver a situação? Por que embora a regra seja clara, não existe manual de interpretação pro juiz... Nem é preciso dizer que a discussão será eterna, mas a vida é assim, cheia de discussões eternas.


Enquanto a gestalt gerar discussões acerca de dúvidas eternas tudo bem, afinal, temos que questionar as coisas, e vez por outra somos traídos pelo nosso cérebro. Quantas vezes fomos "roubados" por um juiz cujo "fechamento" sobre um lance não foi a nosso favor?! É aquela história: faz parte do jogo... e tudo fica por isso mesmo.


Agora vou precisar contar com uma ginástica mental de todos, mas com um pequeno esforço chegaremos lá. E se extrapolarmos o fechamento ou ignorarmos a própria realidade? E se substituirmos mentalmente imagens e sentidos por outras imagens e outros sentidos? Aí temos um evento artístico chamado surrealismo! Olha que massa! Um artista que também é muito famoso e que eu andei vendo chama René Magritte, um surrealista.


Vejam só, tentarei colocar em um crescendo (sob o meu julgamento) o nível de piração surreal de alguns quadros do cara:




Pois bem, até aqui temos: um rosto escondido por uma maçã; um rosto transformado em um corpo e um corpo transformado em uma gaiola de passarinho. Dá pra ter uma noção da viagem do cara, né? Mas... até onde podemos seguir com isso?




Talvez esse seja um dos quadros mais famosos dele. O surreal aponta para um lado que não vemos, um lado que nos permite imaginar, que nos permite sair das amarras "gestaltianas" até o ponto de dizer que isso que você vê aí em cima não é um cachimbo! Mas... o que mais ele poderia ser?! Não existe mensagem subliminar nessa imagem, ela é sim um cachimbo, só que o artista afirma: não é um cachimbo! Em quem você acredita? No que vê ou no que o artista diz? Mas... se não é um cachimbo é o que?! Aproveitando o francês da figura: é do grandissíssimo caráleo esse negócio de surrealismo!


E até aí tudo bem! Sejamos um pouco mais surreais nas nossas vidas e permitamos que nossa mente se desapegue das peças que nossos sentidos nos pregam! Mas e quando você junta um ingrediente a mais na gestalt e ao surrealismo: a malandragem brasileira, o jeitinho brasileiro?


A malandragem brasileira é conhecida pelo jeitinho de encontrar brechas, fazer as coisas andarem num país que é complicado. Em si, é uma forma de arte dos nativos deste país, que, de tanto tomarem porrada aprendem a dar um jeito para continuar com a vida, para se darem bem em alguma coisa... Parece que esse jeitinho, essa "ginga" era boa e todo mundo aceitava, porque a maioria da população sofria com leis com vários furos, complexas, então era preciso se virar pra comer, pra trabalhar, pra não tomar multa do policial que estava abusando do poder, etc.  Afinal, usar de pontos duvidosos sobre qualquer coisa e dar um "empurrãozinho" na gestalt de uma outra pessoa pra mostrar que ela estava errada, levar o guarda na conversa pra não tomar uma multa por conta da burrice do sistema... até aí é aceito, não é? (Deixo bem claro que é até aceito, só que não deveria ser, afinal, são atitudes ilegais... e deveriam ser punidas, se uma lei está errada, que seja feita e se vote outra!)


O que acontece é que, se você exagerar na dose, vc não está tentando mudar o ponto de vista de uma pessoa "gestaltianamente", vc está tentando fazer uma mudança na realidade! Parece que de um tempo pra cá esse jeitinho brasileiro foi sendo distorcida e se aproximando cada vez mais do surrealismo! 


Hoje um brasileiro, como já aconteceu comigo, é capaz de parar no meio da rua o carro, em lugar ilegal, e quando você buzina o cara te xinga! Isso é o que?! Gestalt (eu que não to enxergando direito?!), isso é jeitinho brasileiro (o cara tá tentando fazer uma coisa importantíssima pra ele, mas que a lei não ajuda?) ou é surrealismo (o cara sabe que tá errado e dizendo: vá se foder! Isto não é errado!)?!


Daí eu concluo que o jeitinho brasileiro está virando um surrealismo brasileiro, porque nunca antes na história destepaís se viu tanta palhaçada e jogo sujo na política, na polícia, na atitude das pessoas... e até nas empresas! O cara olha pro planejamento estratégico e diz: porra, isso eu já sabia! 


Então vamos às ilustrações do nosso surrealismo brasileiro:




Isto não é uma roubalheira deslavada


Senhores, podem criticar à vontade. Siceramente, espero ter ofendido bastante gente.

4 comentários:

Guilherme Lui disse...

Edu, parabens pelo post.

Conseguiu compilar em teorias de diferentes realidades (arte, psicologia e negócios) o conceito de um sentimento latente que está acontecendo em brasileiros com acesso (e entendimento) à informação, esse sentimento de: porra, o que esta acontecendo? Sou EU que estou errado mesmo?! Porque é isso que parece, todos estão certos e nos errados.
Daí vem a pergunta, entramos nesse jogo de invesão de valores?
Se houver opção para a resposta, não me interessa, mas digo desde já a minha opnião sobre essa inversão de valores (e atribuição de novos valores também - jeito brasileiro+surrealismo): me inclua fora disso!
Eu sou das antigas...

Parabens de novo!
Abraços, Pintado.

A Viajante disse...

Oi Edu, vou tentar chutar...
A nossa visão de mundo é muito relativa às experiências, e obviamente, quem foram os nossos modelos de aprendizagem. Então, quem enxerga um só lado, só vê uma resposta pra um dado problema, ou acredita em tudo que ouve sem filtrar, analisar, criticar...nos tornamos sugestionáveis e abertos a receber tudo e achar tudo possível, mesmo sendo surreal.
Gostei das analogias, e das imagens...sua escrita é argumentativa e enfim, me convenceu que o povo brasileiro, digo maioria que vai votar no PT, não sabe o que é gestalt, o que é responsabilidade muito menos cidadania... abraços!!
Ah...passa no Foi assim: tá de cara nova!

Unknown disse...

Fala garoto.
Então tá, gostaria de poder amadurecer mais para postar mas acho que a contribuição vai vir de uma forma ou de outra.
Você tocou numa feridinha acho que comum a maioria. Praticamente um jargão.
Fez belas e ponderadas analogias como sempre. Fica claro que a incosistência adquirida pela modelo aristotélico e tão difundida,tanto que nem percebemos mais, é um regulador da moral.
Não se trata de bom o mau país mas sim de uma questão comportamental adquirido em todo país onde o catolicismo é a base da educação e modelo de comportamento social.
Esta ambiguidade beira o fundamentalismo, olha como é irônico.
Em algumas sociedades tribais não existe o conceito do talvez.
As coisas acontecem, existe uma hierarqui e ela é respeitada não temida.
Somo impelidos e dotados de tanto medo que nos tornamos exatamente aquilo que não queremos ser, daío jeitinho brasileiro que pode ser resumido como o GERÇON.
Deixamos de tentar porque o valor do "HI SI..." é tão forte que perdemos nossa capacidade de nos aceitar como serhumano e nos postamos como humildes donos da verdade. Lembra do catolicismo, ou catolicínico, como preferir.
Pois bem a proposta é, vamos deixar de ser condicionados, comecemos por nós.
Buscar a sanidade da escolha consciente e veracidade de tudo que buscamos fazer.
Aceitar que viver é muito mais do que estar certo ou errado.
Diminuir o número de projeções que fazemos a nós mesmos.
Enfim fazer e não especular.

m. disse...

Discordo da crítica política, mas gostei do modo como você reuniu teorias artísticas, filosófias e políticas para fundamentar o objeto do seu post. No decorrer do texto, o leitor mergulha no linhar do seu pensamento e, quando menos se espera, depara-se com sua conclusão.
parabéns!